Neste 8 de março, trazemos uma breve retrospectiva de algumas das mulheres que abriram os caminhos para que outras pudessem existir no mundo da tatuagem hoje. Fazendo a pesquisa para esse post, nos deparamos, infelizmente, com uma realidade que está ainda muito presente no nosso dia a dia, a falta de informação sobre realizações femininas. Além disso, o pouco que se tem de relatos sobre a história das mulheres na tatuagem, fala sobre majoritariamente mulheres brancas, principalmente europeias e norte americanas. A tatuagem acompanha o ser humano desde o inicio dos tempos, existem relatos científicos que apontam que em muitos povos as mulheres eram tão, ou até mais, tatuadas que os homens. 

Sabemos que diversos povos pelo mundo tinham a tatuagem inserida em sua cultura, como por exemplo: A Civilização Moche, proveniente do Peru e Chile, utilizavam as tatuagens como uma forte demonstração de liderança; o povo Inut, do extremo norte canadense, se marcavam com linhas e pontos nos rostos para carregar um "símbolo de pertencimento"; diversas tribos indígenas na America do Sul, como por exemplo, o povo Kayabi, que até hoje mantem a cultura de se tatuar para identificação de membros da tribo e rituais de iniciação. 

Mas infelizmente, sobre essas (e muitas outras) culturas, não se tem disponível tanta informação, e muito menos sobre o papel das mulheres em tais cenários. Deixamos aqui nosso respeito e admiração por todas que sabemos que vieram antes, que significaram tanto, e não são reconhecidas. E continuaremos nossa linha do tempo com as que (graças a essas) vieram depois. 

Nossa linha do tempo "começa" no Egito Antigo, com Amunet, a sacerdotisa da deusa Hathor. Relatos apontam que ela viveu de 2160 e 1994 a.C. É considerada a primeira mulher tatuada do mundo, quando seu corpo mumificado foi encontrado, nele foram achados diversos traços e pontos inscritos em sua pele, principalmente na região abdominal. No antigo Egito as mulheres faziam tatuagens que simbolizavam sua posição social e espiritual. As sacerdotisas de Hathor, faziam tatuagens de serpentes em seus braços como um símbolo de proteção e devoção. 

É apenas em 1904 que se tem registro e reconhecimento de uma mulher trabalhando profissionalmente no campo da tatuagem. Maud Wagner, é considerada a primeira tatuadora dos Estados Unidos, começou sua carreira ao conhecer Gus Wagner e aceitar - não se sabe se por vontade própria, ou não - uma troca: um encontro com o tatuador pela oportunidade de receber lições. Maud usava apenas as próprias mãos e agulhas para tatuar (técnica hoje conhecida como Hand Poke), dispensando o uso de aparelhos elétricos que já eram comuns na época, tatuou por toda sua carreira assim. Maud e Gus tiveram uma filha, Lovetta, que também veio a ser uma das tatuadas mais renomadas do país. 

Jessie Knight, conhecida como "A Rainha da Tatuagem". Começou a tatuar em 1920 e rapidamente se tornou uma das tatuadoras mais bem sucedidas do mundo. Foi a primeira tatuadora a trabalhar profissionalmente na Grã-Bretanha por mais de 40 anos.

Whang-Od, a filipina de 106 anos, é a tatuadora mais antiga que se tem registro no mundo. Aos 16 anos, aprendeu a arte da tatuagem com seus pais e se tornou a primeira mulher a tatuar as tradicionais Batok. Passou a viajar pela província de Kalunga para ajudar a tatuar as comunidades com os símbolos sagrados dos antepassados. Seus traços perfeitos reproduzem a história secular dos povos originais daquela região. Para eles, a tatuagem tem um significado muito especial, que faz parte dos rituais de passagem. Whang-Od tatuou sobretudo mulheres durante sua carreira, e trabalha até hoje. 

Jacci Gresham, é considerada a primeira tatuadora preta dos Estados Unidos. Aprendeu a tatuar em 1972 e decidiu se introduzir em uma industria predominantemente masculina e branca. Seu estúdio Aart Accent, em Nova Orleans, foi um marco para o país e está aberto até hoje. Jacci está com 70 anos e ainda trabalha todos os dias, o slogan da sua loja é a celebre frase "Look Better Naked... Get a Tattoo" (Fique mais bonito pelado... Faça uma tatuagem). 

Kate Hellenbrand aka "Shangai Kate", ficou  conhecida como "America's Godmother of Tattooing" (fada madrinha americana da tatuagem). Nascida e criada em Utah, cruzou com o meio da tatuagem através do seu relacionamento com Mike Malone, começaram a tatuar juntos no apartamento deles, quando tatuar ainda era ilegal em Nova York. Aprendeu com grandes nomes da tatuagem, e foi uma figura muito importante para o legado de Sailor Jerry ser reconhecido hoje da maneira que é. Tatuou por mais de 50 anos, foi um ícone para a história da tatuagem, foi pioneira e uma grande inspiração para muitas. 

No Brasil, a história diz que a tatuagem "chegou" até nós pelo dinamarquês Knud Harld, conhecido como Lucky Tattoo, que desembarcou em Santos em 1969, trazendo a primeira maquina elétrica de tatuagem do Brasil em sua mala. Mas obviamente esse é mais uma tentativa de apagar a história dos que vieram antes. Sabe-se que a grande maioria dos mais de 300 povos indígenas brasileiros, utiliza da arte chamada de "grafismo indígena" há muitos e muitos anos, no povo Kadiweu, por exemplo, a prática de pintura e confecção de tintas é uma área de ação exclusiva das mulheres, um ensinamento que é transmitido pelas mais velhas. Mas infelizmente, as informações que temos sobre essas mulheres (e as seguintes) são muito rasas e/ou de difícil acesso. 

Portanto, focamos naquilo que nós temos o conhecimento para falar sobre. A cena da tatuagem no Brasil contou com muitas mulheres importantes, mas que por diversos motivos, muitas não atuam mais na área. Hoje, temos 3 mulheres que consideramos que foram de suma importância para o meio da tatuagem ser da forma que é hoje. 

Claudia Macá, tatuadora há 40 anos, pioneira da tatuagem no país, atua na area até hoje. Acredita-se que em São Paulo foi a primeira tatuadora que ainda está na ativa. Começou a tatuar em 1983, depois de acompanhar sua irmã para fazer uma tatuagem. Seu trabalho é muito reconhecido e respeitado até hoje. 

Vania Mendes, conhecida como Madam Tattoo, é mais uma das pioneiras da tatuagem no Brasil. Vinda de Marilia, Vania se tornou uma das profissionais mais respeitadas do país. Atua há 40 anos como tatuadora, e hoje em dia também realiza remoção de tatuagem e faz piercings. 

Por ultimo, mas longe de ser menos importante, temos nossa tigresa, Maria Fernanda Brum, tatuadora há 22 anos, fundadora e idealizadora do Le Tigre Salon. O sonho de ser tatuadora não estava nos planos da adolescência, mas depois de realizar a primeira tatuagem à pedido de um amigo, se apaixonou pelo trabalho que a tem colocado como uma das representantes de sua geração. Participou e realizou projetos muito importantes para o meio da tatuagem, como por exemplo: Foi representante do tema "Tattoo" na ação do Sailor Jerry Rum em São Paulo; foi uma das idealizadoras do evento "Velha Guarda Tattoo" que reuniu grandes nomes da tatuagem; teve uma obra exposta em "Arte da Alma" no Farol Santander; e por fim, a realização do Le Tigre Salon, um estúdio de tatuagem composto apenas por mulheres. 

Nós do Le Tigre, gostaríamos de demonstrar com esse post, nosso profundo respeito e carinho por mulheres tão incríveis que vieram antes, para que hoje, nós possamos estar aqui realizando e conquistando tanta coisa. A vocês, nossas clientes e amigas maravilhosas, agradecemos pelo suporte e carinho por tanto tempo, temos muita sorte em ter uma rede tão incrível ao nosso redor. Que sejamos ouvidas, vistas, lembradas, respeitadas e representadas todo os dias, para que no futuro saibam quem foi cada uma de nós.